O email que me emocionou - A historia de amor com as banquetas


Recebi um e-mail que me emocionou muito, pela sinceridade com que foi escrito.
Fiquei muito feliz pela confiança depositada, em compartilhar algo tão intimo e tocante.
Gostaria muito de compartilhar este e-mail com vocês.
São duas histórias de amor. A história do pai e a história do pai de sua meNina.


Simone e o pai de mão dadas...


Nina, a filhinha de Simone


Estas sãos as histórias de amor , tão lindamente compartilhadas pela Simone.


Olá Ju Amora!
Não nos conhecemos mas adorei o projeto "banquetas para ouvir histórias de amor".
Adoro histórias, boto a maior fé no amor e tenho uma ligação de infância com banquetas ( e o engraçado é que só me dei conta disso agora, lendo sobre o seu projeto e recordando... O quanto meu pai era um entusiasta de banquetas kkk...E  como ele naturalmente as inseriu no universo familiar desde que me conheço por gente hehe)...
Várias cenas dele às voltas com banquetas ou sentado sobre elas...
me vieram à cabeça...Dentro de casa, enquanto curtia, literalmente, o ritual de envelhecer suas cachaças em tonéis de carvalho...Lixando ou envernizando suas admiráveis banquetas de estimação, apesar de não ser marceneiro e sim, contador , de profissão.
Dizem que nada acontece por acaso e dias atrás me detive por um bom tempo diante de uma pequenina banqueta na área de serviço externa na casa da  minha mãe...Apesar de quase irreconhecível, de tão gasta pelo tempo, pude identificar o singelo desenho de um cogumelo, antes vermelho, e agora...pálido...Fiquei a pensar que meu pai talvez ficasse triste ou indignado com a situação da pobrezinha, deixada ao relento, sem muita função...Também me ocorreu que minha filha, pequeNina, talvez se encantasse com ela, se a visse como no auge de sua utilidade, nos tempos que ocupava os rincões nobres da casa simples de meus pais, toda trabalhada em cores vibrantes e com o brilho do verniz recente ( que o vovô que ela não chegou a conhecer passava e retocava à primeira suspeita de que a velha banqueta poderia voltar a ter aparência de novinha, em folha)...Neste tempo...Eu, para falar a verdade, não botava muito reparo nela, mas ao vê-la abandonada dias atrás, me compadeci tão surpreendentemente, que penso tê-la amado um dia sem saber...
E chego a me ressentir de ter transformado as banquetas do papai em alvo de piadas de família, pois não raramente, ele abria o porta-malas do carro e inusitadamente sacava banquetas para simplesmente nos convidar a sentar sobre elas à beira de uma estrada para jogar conversa fora antes de chegarmos ao nosso destino, enquanto 'beliscava' as iguarias que ele fazia questão de preparar para levar mundo afora. Já adolescentes, eu e meus dois irmãos, não podíamos pensar nada mais além de que isso era coisa de "farofeiro"...Mas pensando bem não dava para chamar um homem que nunca aceitou saborear uma bebida em copo inapropriado de "farofeiro"...Acho que minha mãe, apesar de apaixonada pelo papai, concordava com a gente, pois, apesar de nada afeita à luxos, tampouco compartilhava ou incentivava a prática desta  "mania", mas, assim como nós, a aceitava inevitavelmente. 
Agora, que meu pai não está mais no plano terreno, uma banqueta velha e surrada é capaz de remexer tanta história. Me lembro de ter pensado por uns segundos, o que eu estou fazendo aqui quase chorando diante de um banco desbotado que nunca teve muita importância para mim?...E o reinvindicando no íntimo, no caso pouco provável de algum dos meus irmãos demonstrarem algum apego por ela...Cheguei a imaginar que minha mãe estranharia se eu o pedisse e talvez tivesse dificuldade em consentir que eu o levasse ele para minha casa...Não por que não valesse a pena, mas porque já tenho tantas coisas em meu apequenado apartamento, que ela me desaconselharia tal feito.
Só que o destino me trouxe a história do banco de volta por meio da sua provocação Jú Amora; ao conferir formas, cores e temas diversos para este singelo objeto. Ao despertar em mim a paixão à primeira vista pelo banco Cordel. Imaginei ele meu, ao dispor de quem nele quiser se sentar no convívio do meu lar...Apesar de ser uma "paulistana da gema" reconheço na cultura nordestina um traço familiar. Mandacarus emoldurados são um tema que tem a ver com o que podemos chamar, em seus primórdios, de uma história de amor...E que surrealmente, foi marcada por um episódio cujas protagonistas foram duas banquetas...Minutos antes de embarcar às pressas no aeroporto de Petrolina para voltar a Sampa, depois de percorrer milhares de quilômetros apressados após uma "esticadinha"  até a Chapada Diamantina, que não estava no roteiro original e foi decidida no embalo que só as aventuras amorosas conseguem nos dispor ,   meu companheiro de viagem desceu minhas bagagens do carro junto com duas lindas banquetas sertanejas...Eram um presente...Que não pude aceitar...Não por pudor, mas pela impossibilidade de seguir viagem com elas...Acho que no fundo eu estava fugindo...E nas fugas, quando menor a bagagem, melhor...Deixei para trás, o moço e as duas banquetas. De imediato percebi que ele ficou triste. Mas foi  quando subi no avião, que um súbito e estranho sentimento  me tomou. Acho que foi porque parei de correr. Daí aquela coisa da qual eu fugia me alcançou. E me bateu, antes mesmo de eu me acomodar na poltrona do avião. Tentei ver pela janela do avião o carro que levava meus banquinhos, mas nem sinal, só a poeira que levantamos na estrada.  Mas destino que se preza não deixa barato e bate na sua porta de novo. Ao chegar em São Paulo, encontrei a amiga que dividia o apartamento comigo muito doente. Ela tinha feito o trecho inicial da viagem ao nordeste comigo. Nos encontramos em São Raimundo Nonato, no sudeste do Paiuí, poucos dias depois do Tsunami varrer a costa indonésia no dia 26 de dezembro de 2004, enquanto eu estava sã e salva, bem longe de água, na caatinga, mais exatamente nas imediações do Parque Nacional Serra da Capivara. Portanto, depois do nosso relato, logo a médica que  examinou minha amiga já em tons monocromáticos de amarelo no hospital para o qual a carreguei me deu o diagnóstico: "sua amiga está com hepatite A. Muito comum em crianças e perigosa em adultos". A doutora me perguntou se eu tinha bebido da mesma água e comido a mesma comida e eu disse que sim. Após um exame laboratorial, fui isolada também  e orientada a avisar todas as pessoas com quem tive contato sobre a suspeita da doença e o risco de contágio. Ainda que constrangida, liguei. Do outro lado, o moço do sertão se negou a acreditar, me disse que eu não tinha nada e que ele estava à caminho de São Paulo para ficar comigo. Eu disse que ele não podia vir e que eu estava isolada por ordem médica. Ele achou bobagem o meu protesto. Acho que cerca de dois dias depois, o tempo de eu comentar por cima com minha mãe que eu achava que em breve o "tal moço "apareceria, caí doente de verdade...E fui hospitalizada pois meu caso era grave. A sorologia da hepatite foi negativa, mas tive uma infecção alta nos rins, verdadeira razão da alteração que apareceu no meu exame. Me lembro de acordar no meu quarto, quase incapaz de sustentar a cabeça e me deparar com o moço do sertão proseando com minha mãe e dizendo que ele ia ficar como meu acompanhante. E ficou. Logo conheceu toda a minha família e quando dei por mim as duas banquetas me pertenciam.  Já não estamos juntos como, no fundo, um dia, os dois sonharam estar para sempre...Mas da nossa união permeada por idas e vindas, nasceu uma meNina linda...Que adora banquetas...E ama contar histórias de príncipes e princesas, falar de amor, sentadinha sobre elas...Ainda prefere as dela...Mas as banquetas que a mamãe ganhou do papai, ainda são um par aqui em casa e muitas vezes, sustentam nossas coisas e nossas histórias.
Parabéns pela iniciativa do projeto. Adorei relembrar e reviver histórias de amor depois de me apaixonar pelas suas banquetas!!!

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